20/10/2011

Estimativas para a Selic e o problema da ancoragem



Pesquisas demonstram que as pessoas constroem suas estimativas a partir de um valor inicial, ou  âncora, baseado em qualquer informação que lhes é fornecida, ajustando-o para obter uma resposta final. Entretanto, Slovic e Lichtenstein (1971) evidenciaram que em grande parte dos casos os ajustamentos feitos a partir da âncora não são suficientemente grandes, resultando decisões que se desviam da racionalidade. Em outras palavras, decisões tomadas em contextos idênticos podem ser bastante diferentes em razão da presença de valores de referência distintos disponíveis para os decisores, ainda que estes valores não devessem exercer grande impacto sobre a decisão final.
Haviam muitas especulações sobre quanto seria o corte na SELIC. Credit Suisse chegou a falar em um corte de 1%. Há umas duas semanas antes da reunião do COPOM era quase consenso de que o corte seria de 0,5%. Ontem, poucos falavam em 0,5%, a maioria falava em 0,75% e 1,00%.

Neste caso (na minha visão), o que ocorreu foi uma mudança na âncora. Inicialmente a âncora era o próprio Banco Central.

"O corte anterior foi de 0,50%, então o próximo corte deve ser em torno disso."

A segunda âncora foi a opinião dos especialistas e a influência da mídia.

"Várias casas grandes estão falando em corte de 1%. Isso não deve ser por acaso."

Ontem o corte da Selic veio em 0,50%. E apesar de todos os modelos matemáticos, a âncora dos tomadores de decisão estava no primeiro caso. E hoje ocorre o ajuste de quem acertou e quem errou nas suas estimativas.